Dormência
Marise Ribeiro
Ah, como eu queria
Que aquela rede falasse
E todas as loucuras contasse
Daquelas tardes de outono!...
Um amor sem censuras,
Com sabores de aventuras,
Sem hora, sem medo, sem dono...
Depois ela cadenciava o sono
De nossos corpos em total abandono...
Ah, como eu queria
Que aquela rede falasse
E quem sabe de novo avivasse
Os lúdicos momentos do passado!...
Tempo em que naquele recanto
O som era o sorriso do encanto
De um casal enamorado...
Símbolo do desejo não refreado,
Alcova aberta ao manto azulado...
Ah, como eu queria
Que aquela rede falasse
E para nós bem alto gritasse
Que a paixão não emudeceu ali!...
A emoção poderia ainda ressurgir...
Mas aquela rede não fala
E a nós... já não mais embala!
Hoje, num adormecido porta-retratos,
Apenas silêncios... a rede acasala!
24/09/08
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